segunda-feira, 24 de julho de 2017

Reencontros e desencontros - breve reflexão sobre a amizade

Acho que no geral, as amizades desempenham um papel ainda mais importante para LGBTs, pois são a fonte de apoio e prazer num mundo que ainda aceita com dificuldade as orientações sexuais e identidades de gênero não-dominantes.


No processo de descoberta e afirmação, muitas vezes nos afastamos da família e do antigo círculo de amigos e temos a alegria de descobrir pessoas que estão num mesmo processo e que têm as mesmas questões que nós. E aos poucos vamos vendo que não estamos isolados no mundo.

Comigo aconteceu assim; eu tenho muito orgulho dos meus amigos gays de mais de 15 anos, amizades ininterruptas e é muito interessante ver como evoluímos juntos, como pudemos testemunhar e participar de vários acontecimentos e com um influenciou o outro nas trajetórias individuais.

Sem esses meus amigos (e os que foram chegando ao longo dos anos), eu seria uma pessoa completamente diferente da que sou hoje (com certeza, muito menos interessante e evoluída).


Atualmente, dois fenômenos interessantes acontecem (e o adjetivo "interessante" não significa que venha sem um pouco de angústia também).

Relatei a briga que tive com o Mário no carnaval desse ano e o baita estrago que isso fez na nossa amizade. Nós conversamos, colocamos tudo em pratos limpos, eu me desculpei quinhentas mil vezes e aparentemente tudo estava bem.


Só que com o passar das semanas eu fui percebendo que o Mário tava um tanto quanto indiferente comigo, parou de compartilhar as coisas dele, nos falávamos com menos frequência... de repente eu tava sabendo coisas dele por 3os; coisas que antes saberia por ele.

Me dei conta que o Mário tinha perdido a espontaneidade comigo. E essa, minha colega, não dá pra fingir. Ou se tem ou não se tem.

Isso me deixou inicialmente emputecido por me sentir excluído de um convívio tão especial que tínhamos antes. Eu cheguei a pensar que as coisas estivessem devidamente sacramentadas e que não haveria mais o que fazer. Cheguei a "dar por perdida" essa amizade.

Mas felizmente a gente aprende na vida a ser um pouco mais analítico e, acima de tudo, paciente. Não se desesperar nem bancar a histérica. Com um pouco de dificuldade consegui entender que era normal que isso acontecesse, que para ele foi difícil ouvir as palavras duras que ouviu de mim e que eu preciso ter paciência e dar tempo ao tempo.

Então me aquietei e continuo a amizade com ele como se tudo estivesse bem, mesmo ciente de que nem tudo está como era antes. Mas vai voltar a ficar. E eu tô me esforçando pra isso.

Ao mesmo tempo... (e isso é muito interessante, hehe)... eu me dei conta de estar vivendo um processo semelhante com o Leandro, meu outro grande e melhor amigo. Só que aqui eu estava na posição inversa.

Eu e Leandro somos muito próximos há uns quase dez anos e ele tem um papel fundamental na minha vivência gay. Leandro foi o cara que me apresentou o maravilhoso mundo da sauna e me ajudou muito a viver minha sexualidade de forma muito mais livre e prazerosa (ao mesmo tempo em que ele também vivia a dele).

Só que de uns anos pra cá a gente foi gradualmente se distanciando. E isso é um pouco da vida... de repente começamos a ter interesses diferentes, um recusava os convites do outro, queríamos lugares e companhias diferentes. E nesses "interesses diferentes" entraram outros amigos, conhecidos e um namorado que vive em outra cidade.


Eu me senti preterido, escanteado. Fiquei furioso. E a minha reação foi também a da perda da espontaneidade. Passei a trata-lo de forma fria, meio que protocolar. Claro, ele percebeu isso, mas soube entender e esperar. Ficou na dele (como boa pessoa analisada que é, e como alguém que conhece muito bem as neuroses do amigo).

Nos últimos meses esse processo de distanciamento chegou ao fim, de forma natural e espontânea. Voltei a ter intimidade com ele, voltei a curtir e a buscar os momentos na companhia dele, recuperamos a liberdade um com o outro pra falar o que quiser, de quem quiser [e acredite, isso rende momentos hilários!].


Novamente a "vida" me ensinando que é preciso ter paciência com as coisas, que o tempo das coisas não é necessariamente o meu tempo de pessoa ansiosa e que quer tudo pra ontem. Mais um aprendizado que é bem vindo!


"Quando bons amigos brigam, o importante não é quem ganha/perde. O importante é quem perdoa, esquece e ainda quer ser amigo."

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