domingo, 11 de setembro de 2016

#esquerda_transante. Ou '40 no máximo'.

Sex and intoxication have reserved seating at the table of human experience; they constitute a significant proportion of the pleasure of living. *


A conversa começou quando vi no Face este post:



O post tirava um ótimo sarro do Temer sobre o cálculo um pouco subdimensionado e impreciso que ele fez de uma das manifestações na Paulista. A hashtag #esquerda-transante me lembrou de um tema que sempre discuti com a Manú, uma amiga minha super militante, filiada a partido político, filha de sindicalistas, que foi criada no caldeirão efervescente da esquerda paulistana.

Imediatamente marquei a Manú e pouco tempo depois mandei uma msg in private pra ela.
Eu: 40 é a sua meta.
Manú: a louca rs...
Eu: Eu acho mto pouco... mas no seu caso, vai ser uma revolução. 
Manú: gente, que valorização dos números. 
Eu: Eh uma sinalização. Número vai ter de qq jeito. Quero ajudar pra que não seja o zero. 😜😆 Vc eh tão linda, tão interessante, tinha de aproveitar mais as picardias da juventude. 😈😈 E vc vai continuar sendo de esquerda, ninguém vai duvidar kkkk. #esquerdatransante
Manú: e o que tem minha ideologia com isso homem? rs Eu saio conforme tenho vontade ué...rs.
Eu: Sei lá... tem gente na esquerda q acha q sexo eh coisa de pequeno burguês. Uma mercadoria fetichizada do sistema capitalista. Prazeres mundanos que não deveriam gastar energia aqueles que querem fazer a revolução.
Manú: Eu só acho que não é o centro da vida, fora isso, rs...
Eu: Faz parte do centro da vida hehehehe
Manú: rs...
A Manú foi bem precisa no que sexo representa na vida dela: não é o centro. Do que vejo (e sempre foi meu ponto de debate com ela), não é nem parte das bordas mais extremas. A Manú parece conduzir a vida dela sem sentir a necessidade de se relacionar sexualmente com alguém. Tem a militância política como centro da vida, além dos projetos acadêmicos, faz um monte de trabalho freela pra faturar uma grana extra e até um tempo atrás, chegou a ser garota maromba, rata de academia. Interessante isso, uma militante de esquerda que curte musculação pesada e suplementos proteicos, hehe... ela parou pq lesionou joelhos, uma pena... ficava muito sexy malhando. 

Ela teve uma espécie de pseudo namoro-bumerange com um conhecido dela, mas que parecia ser uma relação mais intelectual, inclusive marcada por muita discussão, muita divergência e uma relutância dela própria em tratar como um namoro minimamente convencional. Ela ficava orbitando em volta da vida do cara e o cara orbitava em volta da vida dela... mas nunca parecia haver um encontro real... só muito desencontro. Foram anos nesse vai-e-vem, nesse chove-não molha... e ao que consta, nunca rolou sexo entre eles, ou se rolou, foi muito limitante. 

Logo que nos tornamos mais próximos eu sempre conversava disso com ela, tentava entender essa resistência dela em namorar o cara, em coloca-lo nessa posição (e ela parecia ter afeto por ele, apesar do cara irrita-la muitas vezes com posturas infantis). Questionava também esse suposto desinteresse pelo sexo, realmente me intrigava. Ao mesmo tempo, me intrigava o suposto desinteresse por estar em uma relação (bom, não tenho elementos aqui pra discutir os namoros anteriores dela, ela me contou vagamente de alguns. Do que ouvia, sempre pareciam ser relações conflituosas).

Não caro leitor, ela não é uma lésbica enrustida.

Na 'minha' avaliação (e deixo claro que é uma avaliação pessoal, não tenho como saber se estou certo nem estou defendendo que seja a visão correta dos fatos) por algum ou alguns motivos a Manú tem esse lado bloqueado dentro dela. Manú teve sempre de batalhar muito pelas coisas dela, pra terminar a faculdade, pra entrar no mercado de trabalho, pra ganhar o próprio dinheiro que desse minimamente pra se sustentar, e ainda teve de segurar umas barras em casa pela instabilidade econômica, efeito da militância política do pai. Acho inclusive que a relação completamente edípica dela com o pai também ajuda a explicar esse suposto bloqueio. Num cenário assim, provável que na cabeça dela não haja espaço mesmo para o exercício do prazer que o sexo proporciona. E que isso seja visto até como uma coisa indesejada, inadequada para alguém com a trajetória dela. Com tantos problemas, dificuldades e urgências, pq "gastar" tempo transando?

Mas o interessante é que quando a Manú me diz "sexo não é o centro da minha vida" sinto que indiretamente ela me joga um dedinho de crítica, dizendo não ver com bons olhos a centralidade que eu dou à minha sexualidade e a forma intensa como a exerço. E a gente tem muita intimidade para que eu conte pra ela várias das minhas histórias, ela às vezes pergunta, eu conto detalhes picantes e ela se posiciona do tipo "esse sim"; "esse não"; "que babaca!"; "que cara bacana"; "ah, pq vc não investe nesse?"; "nossa, vc ainda tá vendo esse cara?".

Isso me faz pensar em duas questões mais amplas: 

Primeira: será que o formato atual que construí para o exercício da minha sexualidade é exagerado e superdimensionado? Dou importância ao sexo além da que deveria? 

Segunda: a vivência da minha sexualidade na verdade pode ser localizada e contextualizada num microcosmo gay típico de grandes cidades e que se revela em toda sua plenitude na cidade de São Paulo (mais até do que em cidades americanas e européias).

Sobre a 1a questão, eu acho sim, que dou uma grande importância ao exercício da minha sexualidade e isso é uma dimensão crucial pra mim. Gosto de transar, gosto de ter experiências com diferentes pessoas, gosto de exercer carinho, sedução, dar e proporcionar prazer. E gasto um bom tempo fazendo isso. Não acredito na visão tradicional de monogamia e acho que as relações deveriam ser mais livres, com menos amarras e mais possibilidades de variação.


Até o momento não tenho motivos pra achar que isso não seja saudável. De fato, escapa da tal "normalidade" em relação à grande parcela das pessoas... talvez a minha frequência sexual seja acima da média, mas não é por isso necessariamente que deva ser considerado algo ruim, doentio ou patológico. Sempre me causou revolta certas visões que buscam criminalizar ou demonizar a busca do prazer. Já sofri muito por isso durante um bom tempo.


Eu tenho consciência de que ponho uma boa parcela de energia e foco nisso... e que, por decorrência lógica, outras questões não terão a mesma prioridade. Eu poderia estar me dedicando a um hobby, fazendo uma segunda graduação, passar mais tempo com a família, mas nessa atual fase, eu tenho claro que meus objetivos de vida passam por uma vivência mais prazerosa na qual o exercício da sexualidade é central. Já atingi certos "milestones" profissionais e não preciso provar mais nada pra ninguém. 

Em outros momentos, já tive outros focos, como por exemplo quando fazia pós graduação. E poderia ter feito outras escolhas em direções opostas, como casar e ter filhos. Mas conscientemente não quis e não fiz. E claro, mesmo sendo muito importante, não é a única dimensão da minha vida... há os amigos, há o trabalho, há o lazer, há a família... 

Então, independente de se considerar certo ou errado, uma coisa fundamental a ser dita é que são escolhas conscientes, feitas com muita análise por trás. E como toda escolha (eu não canso de dizer isso aqui), há ônus e bônus. Tento ser maduro o suficiente pra ficar tranquilo quando aos possíveis ônus que minhas escolhas me trarão. E viver bem com isso.

A 2a questão me aponta que, definitivamente, eu não estou sozinho nesse "life style" (se é que podemos dizer assim... não gosto muito dessa expressão pq acho que ela é usada com um tom pejorativo para os gays - ah, esses americanos puritanos... sempre querendo punir o prazer alheio!). Muitos também escolheram viver assim. Uma noitada de sábado na The Week vai te dar a exata noção do que estou dizendo... pencas de homens gays exercendo de forma escancarada seu direito sagrado ao pleno prazer. O que se passa ali é realmente impressionante... um templo hedonista com um séquito fiel de seguidores.          


A minha afirmação se materializa nos vários ângulos e pedaços da foto abaixo:


Mesmo não tendo muita esperança, eu espero que a Manú consiga se libertar de algumas amarras que ela própria se impõe e se abra pra novas experiências. Que se abra pra conhecer um cara legal, se relacionar, curtir sua sexualidade e todo o prazer que estas experiências podem nos proporcionar (e conhecendo a minimamente, talvez um namoro tradicional não será mesmo o termo ideal pra ela - vai ter de ser algo mais fluído e menos engessado).

Da minha parte, eu vou continuar essa jornada exploratória de prazer. 2016 tem sido um ano de inflexão nessa trajetória, muitas coisas surpreendentes acontecendo, muitas novidades e experimentações. Não sei até quando isso vai durar, não sei o que vai acontecer pela frente. Mas sei que neste momento minhas decisões estão tomadas em direção a um sentido e tenho consciência de onde caminho.


* - frase tirada de http://newsletter.csrh.org/newsletter_2013-10-01.html

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