sábado, 13 de janeiro de 2018

Masculinidades - algumas reflexões

O desenho acima publicado pelo artista Song Inkollo essa semana me trouxe à cabeça alguns questionamentos.

Como comentei em um post no mês passado, Song retrata a vida cotidiana dele e do seu namorado Joe por meio de um projeto artístico chamado "Daily Life of a Gay Couple"

Eu já conheço um pouco da dinâmica do casal a partir do que nos é "revelado" pelas tirinhas de humor que ele publica toda semana. A partir disso, sabemos que Joe é o cara estilo "grandão", forte, musculoso, que curte muito uma maromba, whisky e Star Wars. Song, por sua vez, é o cara mais intelectual, artista, magrelo, sensível e fã de mangás japoneses. 

E o "interessante" é que a partir disso, nós meio que automaticamente tendemos a atribuir algumas "consequências". Você vendo uma foto como esta poderia pensar quase que de maneira instantânea: 'O grandão é o ativo, é forte, destemido e confiante. O magrinho é o passivo, sensível, quase feminino. O grandão domina a relação e o magrinho é como seu servo obediente.'

Já parou pra pensar que nada pode ser mais equivocado do que isso? Já parou pra pensar como ficamos condicionados a alguns modelos mentais que não necessariamente refletem a realidade e que nos limitam enquanto seres humanos?

Na realidade, Joe é o cara que curte ser passivo na relação deles dois e o Song curte ser o ativo. E eles estão muito bem assim, funciona muito bem pros dois, a vida sexual deles parece ser extremamente satisfatória. O Song problematizou isso uma vez numa das tiras, de como é limitante pensar que só porque um cara é grande, forte, musculoso ele necessariamente vai ser ativo (isso vale também para fetiches que muitos tem com caras negros fortes). 

Ele usou uma expressão em inglês bem interessante - bottom shaming - algo como "vergonha por ser passivo", dizendo ser algo muito comum entre os gays e que não entendia porque ser passivo era visto como algo negativo, de demérito para um homem. Para ele, ativo e passivo deveriam ser vistos da mesma forma que outras características e desejos nossos, sem valoração (no que concordo plenamente).


Na hora da transa é o Song quem conduz, quem vai pra cima do Joe e mete forte nele (sim, o cara magrelo, sensível e que faz desenhos). O Joe fica completamente entregue, usufruindo de todo o prazer proporcionado pelo seu dedicado parceiro.  

Por outro lado, o Song também tem seus momentos de entrega, onde fica abraçado com Joe que, com aquele tamanho todo, praticamente "fagocita" o Song, hehehe...


E o Joe, da mesma forma, tem seus momentos de tristeza e não se importa nem um pouco em chorar (e claro, o amado está ao lado para consolá-lo).



O que quero dizer com tudo isso?

Basicamente que precisamos abandonar de uma vez por todas estes estereótipos equivocados do que é ser homem, do que é ser masculino, de que homens não podem ser sensíveis, vulneráveis ou se entregar a um parceiro (seja ele outro homem, uma mulher ou ambos). Isso vale tanto para os homens héteros como para os gays. 

Especialmente numa relação estável como é a deles, já não há mais espaço para este tipo de máscara ou de defesa. Eles confiam um no outro, sabem que podem expressar seus desejos, necessidades, carências e tristezas. 

Puxa, isso é tão importante né? Um parceiro que se preocupa e que busca reconhecer isso no outro... e claro, é importante que a gente também saiba comunicar isso (o outro não tem bola de cristal pra adivinhar, né?).

Voltando à foto em questão, achei bacana por mostrar o Song sendo pego no colo pelo Joe (algo que fazem muito conosco quando somos crianças... e que, a princípio traz um pouco essa sensação de vulnerabilidade, de "estar sendo conduzido" por outrem). Particularmente, me deixa no coração uma mensagem de leveza, de que você pode se entregar a alguém, que pode se sentir cuidado, acolhido e amado [e fazer o mesmo por alguém]. 

Bjs a tod@s!!!!

PS: Se você curte essa discussão e quiser ler um pouco mais sobre ela, pode acessar esses outros textos aqui aqui e aqui

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