terça-feira, 2 de agosto de 2016

Simpático... mas não tá a fim...

E virou frase típica... repetitiva: Fulano é simpático... mas não tá a fim...
Esse termo foi cunhado pelo meu amigo Mário e define muito bem um certo tipo de cara que conhecemos na balada... a ficada é ótima, o beijo sensacional, pode até rolar um "after" na nossa cama, mas daí em diante, nada mais...

Você está lá na pista pra negócios, o cara passa por você (ou você passa perto de onde ele está dançando), uma troca rápida de olhares, um toque suave no braço, um sorriso tímido, um breve oi, tudo bem? Qual seu nome? (ou nem isso...) e a pegação começa.

O termo apareceu depois de uma ficada do Mario com um médico super boa pinta, daqueles que vc apresenta pra família e todos se encantam... (eu me incomodo um pouco com essa busca do perfil "príncipe", daqueles modelos arianos universitários das propagandas da Abercrombie & Fitch. Acho que isso nos limita e nos tira oportunidades bacanas de conhecer pessoas reais, de carne e osso... mas não nego que quando um desse cruza nossa caminho, ainda que por alguns instantes, causa uma sensação de encanto que nos deixa meio catatônicos...).

Retomando a história do Mário, eles ficaram a noite toda se curtindo, se beijando, dançando e o Mário chamou ele pra ir ao apto e lá ficaram todo o domingo...



Eu não sei ao certo como foi a despedida, mas parece que rolou certa hesitação de ambos em passar contatos (aquela hora clássica onde vc não sabe se pede o telefone, se não vai soar invasivo pedir o pacote face&insta&snap&twitter... ou mesmo você pode não estar a fim de passar seu tel ou abrir acesso à sua intimidade postada em redes sociais).

O fato é que houve algumas mensagens esporádicas, o Mário convidou para um novo encontro mas não teve retorno... aquela coisa de msg no whats que demora pra ser visualizada, respondida... daí a resposta é lacônica, é dúbia... deixaram de ter contato. Vi que ele ficou um pouco chateado... mas o Mário é um cara que aprendeu a ser extremamente pragmático pra evitar novos sofrimentos (mesmo porque já sofreu muito com vários caras babacas que passaram pela vida dele anteriormente). A blindagem ali ficou muito boa!

Nós estávamos falando sobre isso e eu também relatei outros casos semelhantes. O figura nos causa empolgação, a ficada é excitante, o beijo é intenso... e não sei exatamente porque, mas nós concluímos, por causa disso, que o mais lógico seria que houvesse um continuidade, que porque a 1a vez foi fodástica outras tão fodásticas quanto se seguirão freneticamente na sequência.


E essa foi nossa grande conclusão: o sofrimento sempre começa das expectativas mal moduladas (para mais é claro). A expectativa é a mãe do sofrimento!

Como nós temos estado nessa fase muito baladeira, de muita interação, experimentação e atendimentos, é importante ter certa blindagem contra esse encantamento que insiste em aparecer nas ficadas com caras interessantes que cruzam nosso caminho. Sim, vc pode e deve correr atrás (se tiver curtido e quiser mais), mas tenha em mente que nada é garantido e que sim, há uma imensidão de onenightstanders à solta por aí que querem ter prazer sem culpa e sem compromissos no dia seguinte.

Parece, de fato, haver um certa indisposição à continuidade dos encontros... (provável que isso seja mais forte na cidade de São Paulo, com tanta oferta e tanta saliência na vida gay)... quantas vezes nós priorizamos encontrar alguém bacana? Tudo é tão fácil, tão aparentemente disponível, tão "cambiável"... por que focar então? Parece tão difícil vc marcar aquele café com o boy da balada do último final de semana, não? De repente as agendas se mostram incompatíveis, tem trabalho, tem academia, tem visita à tia, tem que buscar o sobrinho na escola, levar o cachorro pro pet, o happy com os colegas da firma... e eu continuo firme na ideia de que a alegada falta de tempo é consequência direta da falta de prioridade pra determinada questão (ou pessoa). Isso parece tão evidente, não?

Claro, ninguém é obrigado a priorizar. Saiba disso então, antes de modular suas expectativas à enésima potência.

A outra conclusão importante é a percepção de que sim, nós também muitas vezes ocupamos esse papel na vida de outros caras. Pensar dessa forma até torna as coisas mais "normais", algo mais "corriqueiro" que não acontece apenas na nossa vida. Não é só a gente que sofre, que tem expectativas frustradas. Nós também muitas vezes causamos isso em outras pessoas, que terão de lidar com tais sentimentos de alguma forma.


 Yes bitch... Mr. Pinkman is a wise man: deal with it! E se não souber brincar, pense duas vezes antes de descer ao play.


Foto I: Two Men Dancing. 1984. Robert Mapplethorpe. 


7 comentários:

  1. Eu não sou o Mario, mas vivo isso várias vezes no ano, e o inverso do Mario tb ! NT

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  2. Estou vivendo isso , é já desistir , até os apps já me cansei .
    Então estou na minha , se tem esta tá bom, se não tem paciência vou fazer o que ?
    Muito bom o texto me identifique muito e acho que muito já estão se cansando dessa vida louco ou não .

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    1. Acho que todos nós vivemos essas situações com certa frequência e é legal aprendermos a viver sofrendo menos com isso. Acho que fomos ensinados a dar muita importância nisso e a esperar situações que na prática se mostram difíceis de acontecer ou se manter. Somos bombardeados o tempo todo com modos de vida e situações ilusórias. Príncipe encantado, casal perfeito, casamento blindado... (entre outras coisas). Obrigado por ler o texto e deixar o comentário!

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    1. oi garoto assanhado! E vc, também faz a linha "simpático, mas não tá a fim?" hehehehe... bj

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  4. É interessante ver por um outro ângulo essas coisas.

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    1. legal que tenha curtido! obrigado por acessar e ler o texto! E pode mesmo ser interessante quando ouvimos um relato alheio ou que mostra o outro lado (afinal, as coisas sempre têm pelo menos dois lados, não é mesmo? hehehe). Abraço!

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