sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Adriana Calcanhotto para Libertinos

Daquelas coincidências que você só percebe depois...

Eu já tinha colocado aqui um texto em rascunho chamado Marina Lima para Libertinos... ele é um pouco maior e está sendo escrito aos poucos, à medida que visito o vasto (e maravilhoso) repertório dela.

Só que hoje ao acordar, não sei ao certo porque, me lembrei de algumas músicas da Adriana Calcanhotto e me deu vontade de fazer um novo post de mesmo título, Adriana Calcanhotto para Libertinos. Ao buscar trechos das canções que eu havia identificado com este caráter, qual não foi minha surpresa ao constatar que as duas primeiras que me vieram à cabeça eram composições de ninguém menos que Marina Lima (e seu eterno parceiro Antonio Cícero).




A 1ª, Maresia, eu realmente não fazia idéia... uma deliciosa surpresa. Até encontrei uma divergência de informação em diversos sites, alguns a atribuem a Marina e Cícero, em outros lugares a autoria é atribuída a Cícero e Paulo Machado. Já a canção Três eu já sabia que era dos dois, Marina e Cícero. De qualquer forma, estas duas canções ficaram mais conhecidas pela voz doce e ao mesmo tempo firme de Adriana, então a identificação pra mim vem a partir dela.


Minha ideia aqui foi a de simplesmente citar trechos de canções que me falam desse estilo mais livre de viver a vida, as relações, o amor, a paixão e principalmente a sexualidade. Certamente há outras letras de Adriana a explorar, mas hoje irei me deter nestas duas. Comentários e interjeições em colchetes são meus... minhas reações ao ler os trechos das letras...

Maresia começa com uma triste constatação, infelizmente muito comum entre os seres humanos... o autor relata que seu amor lhe deixou e, por causa disso, lhe levou a identidade... [hein? como assim??? precisa disso tudo mesmo? algo como "meu mundo caiu" da Maysa... ]. Isso lhe deixa perdido, sem saber onde está, sem noção da realidade... qual a saída encontrada? Pudera ele ter um coração de marinheiro, ligeiro, que se antecipa ao abandono e que, se ferido, facilmente se cicatriza com a ajuda da cola de maresia...






 O coração de marinheiro ama e desama sem peso e sem culpa, à medida que muda de porto.






Ah, se eu fosse marinheiro
Era eu quem tinha partido
Mas meu coração ligeiro
Não se teria partido
Ou se partisse colava
Com cola de maresia
Eu amava e desamava
Sem peso e com poesia
Não buscaria conforto
Nem juntaria dinheiro
Um amor em cada porto
Ah, se eu fosse marinheiro 

Já em Três, a canção parece partir do mesmo ponto... (digo "parece" porque foi a forma como eu a interpretei... outras visões são sempre possíveis). O autor fez de seu amado/sua amada o foco da vida, o seu sol. Só que o resultado disso deixa a desejar, ele constata: apenas tédio e pó. Mas aí algo mudou.


Não consegui captar o que exatamente teria acontecido [o autor mesmo não sabe explicar], mas ele declara que para amar não basta um só amor, um só é sempre demais [ou de menos], especialmente pra seres que se arriscam sem medo da possível [e muitas vezes provável] queda.

Pra seres assim, não cabem lamúrias ou calúnias. O que cabe é se reinventar. [ultimamente essa palavra teve o uso tão banalizado, tão surrado, que me dá um certo bode quando a escuto... mas aqui na canção, cai super bem].

A canção então caminha para o ápice, cuja última estrofe é tão bem sacada, tão bem escrita, que prefiro reproduzi-la na íntegra:
Eu quero tudo que há
O mundo e seu amor
Não quero ter que optar
Quero poder partir
Quero poder ficar
Poder fantasiar
Sem nexo e em qualquer lugar
Com seu sexo junto ao mar.

Vejam as conexões entre as duas canções e a mensagem semelhante de liberdade, possibilidade de escolha e vivências múltiplas. Interessante é que no caso de Três, parece haver um diálogo entre os amantes, uma afirmação de que: Olha, o que temos não me basta, quero algo diferente, menos monótono, não quero ficar preso em apenas um foco, quero ampliar meu olhar, e quero fazer isso sem ter de me justificar, sem ter a faca no pescoço, ir e vir quando bem entender.

Bacana... as músicas são legais, falam de liberdade, de não se sentir sufocado, etc... falta só um detalhe: combinar com os russos (no jargão futebolístico). Aí entra a parte mais difícil... colocar o desejo de forma honesta com o(s) parceiro(s). Nem acho que você precise escancarar toda sua individualidade (na ideia maluca de "fusão"), mas o papo tem de ser honesto. Say what you really mean bitch!

No caso da 1ª música, mesmo andando de porto em porto, o marinheiro pode ter vários parceiros assim "constituídos". O que quase nunca fica claro é se, no caso de haver mais de um parceiro, esse plural é de conhecimento de todos os envolvidos. Tem gente que não conta. Tem gente que não quer contar. Tem gente que não consegue contar. E tem gente que prefere não saber. Tem gente que não sabe e vai investigar. Tem gente que deduz e aceita numa boa. Tem gente que não aceita e impõe uma escolha [pobre marinheiro...]


       


Outra possibilidade é que em cada porto não haja parceiros propriamente constituídos, só "casinhos", "peguetes", "paus-amigos", "fodas semi-fixas"... há um universo de nomes e expressões pra denominar tais relações mais fugazes, furtivas e que não necessariamente estabelecem vínculos duradouros (o que, absolutamente, não significa serem menos valorosas ou prazerosas... que fique bem claro).

No caso da 2ª música, o autor parece justamente querer combinar com o parceiro as novas regras do jogo. Coloca uma condicional na negociação: "se você quer amar, não basta um só amor" (o cara chega junto, sem meias palavras, é direto na conversa), e após, revela seu desejo em toda plenitude. Coloca um desejo, em especial, que muitas vezes é o meu: "não quero ter de optar".


Pra finalizar, faltaria dizer, como MC Ludmila diz: "hoje, eu tenho uma proposta". Mas a música não tem de ser linear como a minha cabeça obsessiva e cartesiana, então prefiro imaginar que o parceiro tenha entendido tudo o que o autor disse e que eles tenham topado buscar outro patamar de relação. Ou mesmo que tenham percebido que era hora de cada um seguir seu caminho, separados, rumo a novas experiências.

É isso... adorei analisar a fundo as letras e articular ideias por meio de um texto. Hoje é sexta feira e mais um final de semana começa.


OBS 1: Se quiser considerar, considere que a interpretação é enviesada... Peguei o contexto de pequenos textos, de estrofes e eventualmente versos, sem preocupação com o sentido mais geral da música, ou com o sentido original da canção... mostro aqui os meus sentidos...

OBS 2: to be continued... soon.

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