quinta-feira, 23 de março de 2017

Demônios internos, consequências externas.

Após o furacão André  quero escrever alguns posts sobre o Carnaval de 2017, que rendeu algumas ótimas histórias [apesar de eu não estar nos meus melhores dias].

Não foi exatamente incrível como o Carnaval de 2016 (um momento de muitas descobertas pra mim e alguns amigos), mas teve seu valor. O fato é que eu entrei e saí do Carnaval super angustiado, não apenas pela história do André, mas também por algumas questões profissionais que ainda não estavam definidas e que vão impactar ao longo do ano. Entre momentos de angústia, felizmente, localizaram-se alguns momentos de prazer efêmero, e que, ainda que efêmeros, são valorosos.

Mas antes de falar sobre estes prazeres efêmeros, o 1o post dessa sequência será duro pra mim mesmo. Eu e o Mário nos estranhamos ao longo do carnaval e no bloco da terça feira eu dei uma resposta atravessada nele que o pegou de surpresa - daí na quarta ficou um puta clima ruim.  Logo após o carnaval eu parti numa sequência de viagens de trabalho (e ainda estou nesse ritmo) então não conseguimos nos falar. Nessa segunda eu tive um sonho em que brigávamos e foi a deixa pra eu ligar e falar com ele. 

O Mário me disse que ficou extremamente chateado com a minha conduta - que ele classificou como 'grosseria' e pelo fato de eu ter demorado a chamá-lo pra conversar. Ainda me lembrou de outras respostas atravessadas que eu dei nos dias anteriores. Ao ouvi-lo, eu me dei conta do mal que fiz a ele por conta de um comportamento explosivo e grosseio meu e me deu uma sensação muito ruim, que mexe com a imagem que fazemos de nós mesmos. Inclusive a forma como agi me tira completamente qualquer prerrogativa de reclamar sobre algo, ainda que eu pudesse ter razão. Então, de forma absolutamente humilde eu lhe pedi que me perdoasse pelos "ditos e feitos". 

 

Já não é de hoje que eu percebo essa característica minha, e acho que agora foi a vez em que ficou mais cristalino: eu em geral sou um cara de boa, manso, tímido até, mas eu também tenho uma agressividade latente dentro de mim que é disparada por alguns gatilhos. E aí parceiro, eu fico louco mesmo, eu perco a cabeça, as estribeiras, subo no salto, rodo a baiana, saio dizendo impropérios e palavras duras. Ou então passo a tratar a pessoa de forma fria e indiferente. Uma coisa meio fora de controle, que faço sem pensar. Depois, claro, vejo a merda e quero me matar. 

Já aconteceu várias vezes em respostas a emails em situações de tensão ou conflito, por exemplo [daí a tréplica do interlocutor vem na mesma toada]. Nossa, uma vez eu reclamei no facebook de um convite de casamento em que eu era padrinho por terem trocado a letra do meu nome (tem base? Eu não acredito que fiz isso com uma amiga super querida, mas na hora eu fiquei puto, porque desde a infância sempre trocam meu nome, me soou como pouco caso, sabe? - claro, não justifica, mas tô tentando mostrar que existem alguns gatilhos que fazem essa agressividade transbordar).

 

Outra coisa que também me tira do sério é gente que se atrasa... Porque eu tento sempre me planejar pra cumprir o combinado previamente e me sinto ultrajado quando percebo que o outro não necessariamente teve essa mesma preocupação e me fez perder meu tempo. Tô tentando atuamente ser mais tolerante com isso, às vezes tem um problema, um imprevisto. Não posso levar tão a ferro e fogo como se a pessoa estivesse fazendo de caso pensado [tá, até tem uns casos de dolo eventual que merecem uma boa punição hehehe]. 

Mas voltando ao caso do Mário - ai, ai às vezes me acho muito louco - penso que o gatilho que disparou minha agressividade foi tê-lo percebido mais afastado e em menos sintonia comigo. Eu já disse aqui do ciúme que tenho em relação a amigos mais próximos e aqui também tem um gatilho emocional, pois há determinados contextos em que me percebo ameaçado de perder minhas amizades, como se algo ou alguém fossem me 'roubar' os amigos e os momentos que temos juntos. Os namorados deles, em especial.  

O Mário dessa vez foi em três baladas noturnas no Rio, então tava um esquema de sair onze da noite e chegar às dez da manhã. Isso me incomodou bastante, porque pra mim a prioridade eram os blocos e a praia. Até porque balada eletrônica temos em São Paulo sempre. Ele acabou ficando mais afastado do grupo e eu, pra ajudar, tava mais matutino, saindo pra correr e pedalar na Lagoa cedo, pegar praia, etc. Então ficamos muito díspares. Acho que a cabeça dele estava em outro lugar que não ali... E ficou a impressão de que os blocos no fim da tarde eram uma rebarba, que ia meio que por obrigação. 

 

Pra piorar um pouco, o nosso grupo de amigos estava bem disperso, pessoas e interesses diferentes, então você imagina na hora de organizar 8 viados pra irem a um bloco. Fulano demora no banho, cicrano faz corpo mole, beltrano precisa passar antes no caixa pra tirar dinheiro, confusão pra pegar taxi, e quando você vê já estamos duas horas atrasados. E eu querendo sair cedo pra chegar e beijar mais bocas (e aí percebia que tinha uma 'cambada' me 'atrasando' e me 'dificultando' a vida). Tudo isso me acumulou, de fato, muita agressividade. De novo, a sensação de estarem me sacaneando, fazendo pouco caso de mim (tô tentando descrever o que se passa internamento quando me sinto assim). 

 

Será que eu tinha direito de me chatear com o Mário? Acho que não. Eu inclusive, que defendo a posição individual de cada um (e a minha principalmente), não teria porque reclamar da "troca" de programação. E eu tive a opção de ir com eles, me convidaram antes, mas eu realmente não estava na vibe de música eletrônica e aditivos, então também fiz uma escolha aqui que foi entendida e aceita por eles. 

Só que me doeu no ego essa sensação de distância e aparente descaso dele. 

Vamos então tentar aprender com a situação, desculpar-se pelos erros e tentar fazer melhor na próxima.

Primeira lição aqui é que eu preciso aprender a me controlar quando esses gatilhos forem disparados (sim, porque eles vão continuar a vir). Pensar melhor antes de dizer ou escrever algo... Dia desses consegui essa proeza num desses grupos de whatsapp da família em que postaram uma piada super desumana sobre a esposa do Lula (independente da sua posição sobre política). Eu escrevi uma primeira mensagem que ficou forte, eu pensei, pensei... E reescrevi, suavizando. Ainda bem... E foi super bem recebida, até minha irmã, uma das que havia postado a piada, entendeu o contexto e se desculpou.

Daí vem a 2a lição: uma resposta mais suave ao seu interlocutor pode aumentar muito a chance de você ser compreendido por ele. No caso do Mário, eu poderia ter externado alguns incômodos de forma mais suave, sempre tivemos abertura para isso. Mas dessa vez, a forma agressiva como fiz fez com que ele se fechasse também na sua posição. E aí não tem acordo, não tem meio termo, não tem síntese, não tem porra nenhuma.

Quando ouvi o relato que o Mário me fez, eu senti como se estivesse com o diabo dentro do corpo, ou de uma maneira mais lúdica, como se o diabo da tasmânia tivesse encarnado em mim durante todo o carnaval, agindo daquele jeito devastador por onde vai passando. 

 

Agora que tô mais "assentado" nos sentimentos, espero ter aprendido com esses acontecimentos e, principalmente, espero ficar bem mais atento pra não repetir isso e magoar as pessoas que amo e que me são muito preciosas. 

E vida que segue!

 


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