segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Cristalizados

Essa semana me vieram alguns insights sobre como muitas vezes podemos estar cristalizados em determinada posição, hábitos ou comportamentos e, de repente, nos darmos conta de que é difícil sair deles.

A tal "zona de conforto"... 

Vejo muitos gays solteiros que se alinham fortemente aos amigos, formando turmas fortes e que estão sempre juntos fazendo as coisas. Exuberantes manadas e alcatéias! rs... [eu me encaixo aqui]



Eu fiquei pensando em como pode ser difícil pra alguém que está acostumado a andar em turma de amigos de repente mudar essa rotina e passar a namorar alguém. Sair de uma dinâmica coletiva para embarcar numa dinâmica mais a dois.

Eu não devia dizer isso, mas a pergunta me veio quando vi uma foto do Asher no insta com alguns amigos dele. Pensei comigo: 'será que ele conseguiria começar um namoro quando parece tão confortável e acostumado a estar com os amigos?' E na hora senti que seria uma empreitada difícil (mas claro, só tenho minha intuição como balizadora... tudo bem que ela é meio obsessiva e fatalista rs...)


O quão as pessoas estão dispostas a fazer isso?

É uma indagação mesmo... não acho que haja uma resposta só e tudo vai depender de vários fatores. A empolgação inicial da paixão pode fazer com que a pessoa mergulhe numa história como um avião kamikaze. Mas isso dura?

Se não há tanta empolgação no começo, acho pouco provável que a pessoa vá se dispor a sair da sua zona de conforto e entrar numa nova história romântica. E tende a surgir um conflito entre dois mundos aparentemente distintos e inconciliáveis. 

Curiosamente, o Mário até que tá conseguindo uma interação interessante entre estes dois mundos. Depois de muita resistência, finalmente assumiu o namoro com o boy com quem fica há mais de um ano.

Mas como eles se conheceram na TW, o boy tá acostumado e curte o esquema coletivo a que nós estamos entregues nos últimos anos e agora ele é praticamente da turma, está sempre conosco, um querido!!! E essa conciliação é muito mérito dele também. Então eles têm os momentos a dois deles [que pode inclusive envolver terceiros rs...] mas em outros momentos estão com a turma. E ainda sobre espaço pras putarias individuais de cada um. Eu não sei onde arrumam tanta energia e disposição, rs...

Já um outro amigo nosso, da mesma turminha, está todo apaixonado por um cara e, pelo visto, perderemos o passe dele nos próximos meses. Há um tempo atrás eu ficaria chateado. Eu sempre tive asco daquelas pessoas que somem quando passam a namorar. Particularmente me sinto atingido, isso me dispara algum gatilho emocional de rejeição. Amigos que eram próximos e que conviviam contigo "de repente" não tem mais tempo pra você e encontrar com eles fica quase impossível.

Mas eu tenho tentado encarar a situação de forma mais racional, inclusive controlando esse gatilho, pra ele não disparar e me deixar puto da vida.

Definitivamente, parece que mudei de lado né? hahahaha muito irônico isso... agora tô do lado dos que querem namorar e fico analisando as dificuldades e empecilhos pra conseguir isso (e confesso que ando bem desanimado quanto às perspectivas...).

domingo, 29 de outubro de 2017

Começando um relacionamento

Pessoal, me digam, sem enrolação: O que é preciso "levar" na bagagem para começar um relacionamento?


Será que você precisa estar bem apaixonado desde o começo da história? Ou se houver pelo menos um mínimo de conexão, isso já seria o suficiente pra engatar a 1a marcha e dar a partida?

Nesses últimos dias esse questionamento me veio forte. Reencontrei, por acaso, um cara com quem passei um final de semana super bacana, o sexo foi ótimo, mas não chegou a me empolgar tanto a ponto de querer dar sequência. Ainda assim, tivemos vários pontos de afinidade.

Nós voltamos a conversar pelo app e a conversa fluiu muito bem, ele é muito inteligente e sensível. Quando nos percebemos no app, ele me escreveu:

"Nosso encontro foi muito especial pra mim. Me ajudou a sair de uma fase muito ruim. Tô passando por um momento de muitas mudanças, reflexão e de bem comigo mesmo. Queria poder compartilhar um pouco disso contigo. Muito curioso também pra saber como você anda e o que tem passado." 

À época ele dividia apto com um amigo. Perguntei se ainda estava morando lá e ele disse que havia se mudado pra um apto menor e que agora morava sozinho. 

"Cheguei num momento da vida que eu preciso ter meu espaço. Ter as minhas coisas. E a partir daí, me preparar para encarar um relacionamento sério." 

Essa última frase da conversa ficou ecoando na minha cabeça. Tentei me imaginar sendo essa pessoa com quem ele tentaria encarar um relacionamento sério. E não conseguia me sentir à vontade naquele papel. 

Acho que já deve ter acontecido com todo mundo: vc reencontra alguém com quem já ficou, na hora dá uma certa empolgação e vc se pergunta: puxa, mas pq não ele? Pq não tentar? Pq não dar uma chance. 

Daí dois dias depois saímos pra tomar um café. Quando o vi, eu realmente não me senti impelido a ficar com ele, por mais que o sexo tivesse sido bom. Isso me deixou chateado, porque se tiver de esperar ter as tais borboletas no estômago pra começar um relacionamento... puts, acho que tô bem ferrado na vida. 

Por outro lado, eu vivo bem sozinho, tenho meus amigos, curto minha própria cia, e sinceramente, não acho que deva entrar em um relacionamento simplesmente para não ficar sem alguém. Fazer isso me parece uma cilada. 

As poucas vezes onde tentei insistir sem estar muito a fim, foi meio desastroso. Eu me desesperei em pouco tempo e ainda machuquei a outra pessoa. 

Que bom que o tempo nos traz maturidade e aquilo que o poeta João Doederlein chamou de "responsabilidade afetiva" (sigo o insta dele @akapoeta  - é show de bola, recomendo!).

Na hora de me despedir dele a gente quase de beijou, foi por muito pouco. Mas eu não quis, e não porque me achasse melhor, simplesmente porque não senti vontade o bastante e percebia que a intenção dele era maior do que a minha. 

E se iremos inevitavelmente frustrar alguém, que seja pela honestidade e não pela dissimulação ou incapacidade de dizer 'não'. 

Há muitos anos, um antigo terapeuta me provocou dizendo assim: 'Mas vc nunca leu um livro que só foi começar a ficar bom lá pela página 40?'

Olhei pra ele meio que encantado com a argumentação. Só que até hoje nunca funcionou comigo. Claro, conheço histórias de casais que foram, de certa forma, "forçados" a ficar juntos e que, depois de umas tantas, passaram a gostar, se adaptaram e se entenderam. Mas em um cenário onde vc não precisa, me parece difícil algo assim se concretizar. 

E a minha cabeça fica ainda mais confusa quando vejo as pessoas em geral entrando em relacionamentos com aparente facilidade. E casais que continuam juntos apesar de, ao menos aparentemente, não valer mais a pena (claro, essa análise é a gente que faz, baseado no que consegue captar).

Parece até meio automático, como a gente fosse se matricular na academia ou no curso de inglês e passasse a frequentar. Fora os famosos "serial monogamists", que me dão completamente nos nervos hahahahaha (sim, já falei aqui que tenho um pouco de inveja deles).

Provavelmente vou continuar sem uma resposta definitiva pra essa questão. E essa resposta nem deve existir. Acho que as futuras experiências talvez me mostrem possíveis caminhos. O mais importante é perceber quando estiver frente a uma oportunidade e tentar não deixa-la escapar.

E novamente... tenho de dar uma suavizada na expectativa... reconhecer e aceitar que muitas das coisas na vida não acontecem necessariamente no nosso tempo, e que, quando for esse o caso, há de se ter um pouco de paciência e resignação. Não adianta brigar e maldizer o universo, só vai te fazer gastar energia de forma desnecessária.
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Decidi voltar neste poste depois de publicá-lo na página que o Blog tem no Facebook e acrescentar algumas outras ideias. 

Tive respostas incríveis, maduras, que me fizeram pensar que, resumidamente, pode haver dois caminhos:

  • aquele em que vc está bem apaixonado e "naturalmente" embarca numa história;
  • outro mais lento, onde os dois vão se conhecendo e a vontade de ficar juntos vai crescendo e se consolidando. 
O 1o talvez seja mais espontâneo e o 2o talvez exija mais paciência.

A euforia do 1o caminho não garante necessariamente a continuidade.

A 'aposta' do 2o caminho, apesar de mais arriscada no começo, pode garantir no futuro vínculos mais estáveis e duradouros. Mas também não há garantias aqui, pois a coisa pode não engrenar no começo mesmo.

De qualquer forma, alguns responderam que sim, entrariam num namoro ainda que não estivessem completamente apaixonados e que se dariam esta chance. Muito interessante ler os relatos.

Conclusão: estamos sempre, em alguma medida, fazendo apostas, com a única certeza de que não há garantias - por mais que estejamos conscientes da situação e supostamente embasados na nossa decisão. E a decisão de tentar e começar o relacionamento é só a 1a de muitas outras que se sucederão (Pode parecer muito óbvio o que estou dizendo - mas na prática é bem mais complicado discernir porque vamos vivendo as histórias ao longo do tempo - não se trata apenas de um único evento isolado no tempo e espaço).

O que me dá certo alívio é ver que, pelos relatos colocados, as coisas não parecem ser tão deterministas quanto eu às vezes as imagino. É uma visão para eu testar na minha própria vida, inclusive.

A ver.