quarta-feira, 2 de agosto de 2017

DSTs em alta - parte I

E chegou Agosto... alguns leitores devem estar achando que o blog anda numa fase meio down e reflexiva.

De fato...

Eu tenho andado mais na concha, pensando muito no que quero pra mim daqui em diante, avaliando se ainda quero (e topo) calçar os mesmos calçados que venho calçando há anos. É angustiante, mas tento imaginar que são nesses momentos de crise e incerteza que criamos as condições para alçar novos vôos.

De qualquer forma, prometo que em breve teremos mais histórias picantes, porque mesmo nos momentos difíceis sobra espaço pra um pouco de putaria, luxúria e prazer.

Só que antes disso, quero falar um pouco sobre esse fantasma que, infelizmente, insiste em nos rondar (e vai continuar rondando, não se iludam). Quem sabe nossos netos consigam viver num mundo livre de DSTs... Porque nós; definitivamente não vamos. Já havia feito uma 1ª reflexão aqui sobre o HPV, e senti vontade de falar um pouco mais sobre outras DSTs. 


Uma ressalva importante é necessária: quero deixar claro que não sou profissional de saúde, então esta é uma reflexão de uma pessoa leiga que não deve ser tomada por ninguém como orientação. 

O Brasil possui, ao menos nos grandes centros urbanos e cidades médias, diversos serviços especializados de testagem, aconselhamento, tratamento e assistência para as diversas DSTs, então quem tiver qualquer dúvida, procure estes serviços e fale com os profissionais. Ou marque uma consulta com seu médico de confiança. 

Nas últimas semanas tivemos algumas notícias que gostaria de analisar brevemente.

Existe já há alguns anos uma certa sensação de alívio e relax pelos importantíssimos avanços no tratamento do HIV\aids, mas galera, o assunto continua sério e por mais que a gente queira, não dá pra baixar a guada. Ainda que haja tratamento ou cura, as DST tem consequências sérias e causam danos ao nosso corpo (e aos corpos dos nossos parceiros), além de facilitarem a infeção pelo HIV.

Sim, é claro que transar sem capa é melhor, o atrito pele com pele é delicioso, trocar secreções é uma forma incrível de intimidade e prazer. Mas infelizmente algumas limitações e cuidados [ainda] são necessários em nome da saúde, especialmente a longo prazo. 

Já havia comentado em algum dos posts que o Brasil vive uma epidemia de sífilis, que pode ser explicada pela queda nas taxas de uso do preservativo combinado com a prática de múltiplos parceiros (aspecto esse que parece ter se ampliado nos últimos anos com o avanço dos novos aplicativos on line de pegação e paquera). 

Na mesma esteira, as autoridades médicas tem mostrado crescente preocupação com a resistência da bactéria causadora da gonorréia aos antibióticos, a ponto de já se falar em uma super-bactéria. Os médicos dizem que a prática de sexo oral sem preservativo tem ajudado a disseminar a doença. A doença pode infectar genitais, reto e a garganta e é nessa última que reside a preocupação (e onde a resistência a antibióticos foi constatada).

Sim, nos dois casos, existe transmissão também pela via oral. Sexo oral também é sexo!



Como desgraça pouca é bobagem, foi detectada também uma epidemia de Hepatite A entre a população de HSH (que é o jargão epidemiológico para falar dos 'homens que fazem sexo com homens' - o conceito leva em conta apenas as práticas sexuais, sem adentrar nas discussões de orientação sexual e identidade de gênero).

E por que há essa epidemia entre HSH? Parte da explicação passa pela contaminação a partir da prática de sexo anal e de sexo oral na região anal, contaminada (o famoso 'cunete'). Isso porque o vírus está presente nas fezes das pessoas que estão doentes (e até manifestar os sintomas, ele pode ficar incubado, quietinho, sem fazer alarde). 

A 4ª notícia ruim é que há também uma crescente preocupação quanto ao aumento dos casos de resistência do vírus HIV aos medicamentos antiretrovirais atualmente disponíveis, em geral decorrentes do acesso ou da adesão inadequados ao tratamento. E isso acende a luz amarela sobre essa visão difundida de que a aids é uma doença crônica tratável (como é a diabetes, por exemplo). 

Claro, aids pode ser considerada uma doença crônica tratável. Mas a necessidade de adesão ao tratamento continua imperiosa, não dá pra levar nas coxas. Da mesma forma que se vc fizer uso irregular da insulina, terá problemas, o mesmo se aplica ao uso dos antiretrovirais. E a médio prazo, levanta-se uma preocupação adicional de que linhagens resistentes do HIV possam ser transmitidas, ampliando o número de pessoas com possíveis falhas no tratamento.

Apesar de todos os avanços, fato é que os casos de novas infecções pelo HIV não tem caído, pelo contrário, tiveram ligeiro aumento no Brasil e é muito desanimador perceber isso, tanto porque sabemos que o governo brasileiro perdeu seu protagonismo nos últimos anos na adoção de estratégias mais ousadas de prevenção e também porque, na minha opinião, revela um certo descaso das pessoas quanto a se proteger (as últimas pesquisas mostram quedas no número de pessoas que reportam uso de preservativo em suas relações sexuais). 

Claro que muitas vezes o 'contexto' dificulta a prevenção (por exemplo, quando os serviços de saúde não facilitam o acesso à camisinha ou sequer disponibilizam ou quando garotas tem receio de carregar seu próprio preservativo por receio de serem taxadas de putas ou vadias). Mas há uma considerável parte da população que tem acesso à informação, aos insumos, e ainda assim, faz de conta que nada acontece. Prefere arriscar, pois acha que só acontece com os outros. 

Um ponto que me chama a atenção aqui é que a prática de sexo oral (onde praticamente ninguém usa camisinha) está sendo colocada na berlinda e acho que vamos assistir a um debate na saúde pública sobre a necessidade de maior ênfase das campanhas sobre esse ponto. Isso porque se para a transmissão do HIV o risco é menor (quando comparamos ao sexo anal e vaginal), no caso de outras DSTs pode ser a principal fonte de transmissão.

Longe de mim querer um empata-foda hehehe... mas não nego que essas notícias me deixam preocupado e me fazem pensar nas minhas próprias práticas sexuais. Não consigo me imaginar usando preservativo em sexo oral, mas talvez seja o caso de se pensar na redução de parceiros como estratégia individual de prevenção (e falo aqui "individual" porque obviamente não vou defender isso como estratégia universal - cada um deve analisar quais estratégias são mais adequadas ao seu contexto de vida).



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