quarta-feira, 6 de maio de 2020

O medo das ondas

Se tu foge o tempo logo traz ansiedade

Respirar o amor aspirando liberdade
(Daniela Mercury. Nobre Vagabundo.) 




Sabe quando a gente é criança e nossos pais nos levam à praia pela 1a vez? A gente fica maravilhado com as ondas, mas ficamos meio ressabiados com aquele movimento estranho de vai-e-vem, como se quisesse nos pegar.

A onda retrocede e a gente avança, quer entrar dentro do mar e fazer parte daquilo. Mas aí a onda vem, forte, impetuosa, barulhenta, e a gente corre pra trás, morrendo de medo.

Tem uns carinhas que nos dão vontade de namorar, de passar mais tempo junto. Nos geram um sentimento que nutre aquela certa carência de ter um chamego (gente, que palavra mais antiga, pelo amor de deoooosss kkkk). 

É como se a nossa criança interna conhecesse o mar e quisesse entrar. Mas aí vem uma onda e faz a gente voltar, faz a gente sentir medo do que pode nos acontecer (vamos nos machucar? nos afogar? beber água e comer areia?).    

Hoje foi um dia em que [mais uma vez] me dei conta de um movimento que acontece pra mim e que reflete o meu dilema central de vida. Veio um carinha muito gente boa aqui em casa, daqueles papos retos no app, sem enrolação. A conversa virtual mínima, suficiente pra se combinar um encontro ao vivo. 



Um cara normal, trabalhador, papo gostoso, um certo charme de nerd (como ele próprio se define), barbudo e com o peito peludinho.  Chegou, conversamos brevemente, ele me abraçou e começamos a nos beijar. Sintonia boa, fomos pro quarto, tiramos a roupa e nos comemos por umas 4 horas. 

Entre uma e outra, ficamos abraçados, conversamos, cochilamos, compartilhamos músicas prediletas, falamos um pouco de nós. Eu reparava na beleza do rosto dele e nos pelos do seu corpo alvo.

O bônus no final foi uma ducha a dois super gostosa, espontânea. Eu deixei ele entrar primeiro, dei a toalha. E quando a água esquentou, ele me chamou pra entrar (eu sou como os vampiros, hahaha, só entro onde sou convidado). 

Nos ensaboamos, um lavou o cabelo do outro... bicho, você faz ideia de quanto tempo eu não tinha uma experiência intimista dessas? 


Uma hora ele me perguntou se eu estava solteiro. Falei que sim, que havia namorado há um tempo (assunto pra outro texto aqui) mas que havia terminado e que era algo bem resolvido, que teve seu valor mas que ficou localizado no tempo e espaço. Ele falou da última experiência dele, que não foi das melhores, mas assim como eu, disse que havia ficado solteiro por muitos anos. 

Eu fiquei com uma conclusão na cabeça de que esse carinha estaria aberto a iniciar alguma coisa mais séria e os bons momentos que tivemos me fizeram visualizar que sim, poderia ser alguém que me faria querer passar mais tempo, fazer mais coisas juntos, começar a encontrar com mais frequência pensando num possível namoro. Nessa hora a minha criança interna quis entrar no mar e ir atrás da onda que retrocedia e parecia inofensiva. 

Mas logo depois a criança visualizou a onda voltando forte, ficou com medo e quis retroceder. Será que é isso mesmo que eu quero? (e claro, se for algo que ele também quer - pois estamos acostumados à regra de encontros fugazes dos apps - e aqui não tem nenhum juízo de valor).

Eu venho consolidando há alguns anos um estilo de vida muito solto, livre, já disse isso em vários momentos aqui. Me dá um certo medo (e me bloqueia qualquer possibilidade de tentar fazer diferente) quando penso no tempo que levou pra eu me entender assim, aceitar e gozar! Acessar toda a delícia de se ser o que é, e pensar no quanto ainda pode haver pela frente. 

Uma vez que você encontra o caminho e aprende a trilhá-lo, resta apenas seguir e aproveitar as paisagens! (e não posso negar quantas paisagens boas eu cruzei e curti nos últimos anos).

Se eu me focar numa pessoa só, é como se eu perdesse todas essas (inúemras) possibilidades. Elas podem, quase todas, ser fugazes, pouco profundas, mas nem por isso deixam de ser intensas e prazerosas. E até esse instante, eu não vejo como isso possa ser "vantajoso" pra mim (vou usar o termo 'vantajoso' muito entre aspas). 

O que eu perco me focando em uma relação parece [muito] maior do que eu perco não estando em uma relação (e talvez eu seja uma das poucas pessoas que pense assim - para a grande maioria, perde mais quem está fora de uma relação). 

Eu acho bem difícil ser possível o que a música da Daniela fala: não dá pra respirar amor, aspirando liberdade.

Não sei ainda o que vai acontecer. Ele se despediu meio friamente, não sei realmente se o calor da cama quis dizer algo mais. Mas o que sei é que gostaria de reencontra-lo e ter outros momentos tão bons como os dessa tarde de quarta feira. 

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Amenidas de meio de semana... II

Após um dia cheio e cansativo no trabalho, nada como receber um áudio no whats daqueles que só o Leandro poderia mandar.
"Quero que você responda sem pensar. Última trepada da sua vida. Uma ficha. Uma escolha. Chay Suede, Danilo Mesquita ou Rafa Vitti."



Eu comecei a rir e ao mesmo tempo agradecer ao universo pelo privilégio dessa amizade e por toda a intimidade que conquistamos ao longo de muitos anos - que é o que, ao fim, permite uma pergunta como essa. 

Eu na mesma hora respondi, na lata, sem pestanejar. 
Chay.

Ao que ele responde com uma foto dele e do Mário, sorridentes: "Somos time Chay com vc". 

HS: Delícia!!! Escolha difícil... mas escolhi sem pestanejar. 
L: Nós tb.
HS: Por isso a gente é tão próximo né?
L: Mas eu acho que pelo meu caráter eu pulava a cerca fácil com Rafa Vitti.
HS: Eu preferia o Danilo. Tipo... ele chega bêbado na sua casa, depois de deixar a mina em casa... todo noiado e você oferece um colo amigo. O Rafa é mais um estilo sapeca... daria um ótimo bissexual. 


L: kkkkkkk. Ai eu amo seus devaneios.
HS: hahahahaha. Você me estimula. Esse lado mais lúdico, pra contrastar com o profissional sizudo. 
L: O Danilo chegando bêbado, fiquei de pau duro.
HS: Pensa só...Namora aquelas meninas lindas, são o casal 20. Mas ele guarda um grande segredo.


L: kkkkkkkk. E um pau duraço cheiroso bonito. Grosso na medida.
HS: Engraçado... pra mim ele tem pau fino. Mas jamais rejeitaria.
L: Será? Acho que não!
HS: hahahahaha. Na ordem acho que vem Chay, Rafa e Danilo. Mas você sabe que adoro os mignons... magrelos, bunda pequena...
L: Nisso combinamos rssss.

pausa pro descanso noturno merecido de todo trabalhador e trabalhadora (ainda mais nestes tempos bizarros de caça aos direitos trabalhistas).

Acordei e tive vontade de continuar o jogo:

"Hora de devolver a pergunta do trio. Fim do mundo chegando. Uma trepada de 1/2 hora. A última da tua vida: Rômulo Estrela ou Renato Góes?" 
[reparem como eu sou bem mais maduro nas opções hahahahaha]



L: Renato Goes, com certeza. E vc? Mas eu queria deixar uma coisa bem clara: Renato Goes sem sombra de dúvidas...
HS: hahahaha... bicho, o Rômulo tá tão gostoso nessa novela, mas tão gostoso.... eu ficaria em dúvida...pra casar, o Renato, com toda certeza...
L: Ah bichooo.... rsss
HS: a gente sempre teve uma queda pelo oriente médio né?
L: muito!

Pra quem se animar e quiser saber quais foram as amenidades do texto I - clique aqui (garanto que são tão ou mais interessantes do que estas...)

sábado, 3 de agosto de 2019

Solteiros interessantes.



Essa foi parte da conversa que tive com um vizinho meu na semana passada. O Sílvio é um meninão de 23 anos ainda se familiarizando com sua recém adquirida vivência gay. 

Levou tempo pra gente se conhecer pessoalmente. Acho que só rolou porque os dois estavam com muito tesão acumulado em plena quarta feira (quando já se passou metade da semana mas tem ainda a outra metade). 

Ele veio ao meu prédio, pediu pra eu descer na portaria (pra não ter nenhuma surpresa - o bichinho ainda é todo desconfiado desse universo da paquera via aplicativos), a gente ficou conversando por uns 10 minutos daí eu o chamei pra subir e ele topou.

Faz pouco tempo que começou a sair com caras e chegou a namorar outro boy por 7 meses (me disse que o namoro acabou no dia em que o cara tentou comer ele... #bapho). 

Eu não deixo sempre de reparar no fato de que mesmo os caras mais travados sucumbem ao desejo. Você pode resistir o quanto quiser (e puder), mas tem uma hora em que você baixa a guarda e se entrega. Ficamos num sarro muito gostoso, muitos beijos, amassos e oral.  Ele é todo lisão, magrelo alto (piro!!!) e tem aquele corpo característico de jogador de volley (que eu acho lindo!). 

Depois que ele saiu daqui de casa continuamos a trocar umas msgs pelo app e foi onde esse papo surgiu. A fala dele me deixou de certa forma intrigado (apesar desse discurso não ser novidade). 

A primeira impressão parece confirmar a tese: se alguém é muito interessante, não teria motivos (nem incentivos) pra estar solteiro. Vem inclusive um certo espanto, como se a lógica estivesse sendo contrariada: mas se você é tão interessante, por que caralhos está solteiro?

Esta pergunta poderia ser respondida de diversas formas. 

Eu começaria problematizando com a constatação de que muitas vezes as pessoas estão juntas pelos motivos errados. Sinto que muita gente prefere estar com alguém pelo simples fato de estar, porque é cômodo, porque sofreria menos, porque não consegue ficar sozinho, porque tem medo da solidão. Sinto também que a maioria das pessoas meio que está "programada" para encontrar um par e seguir a vida. Assim funciona nossa sociedade.

Se é assim, em algum momento da minha vida essa programação social "deu ruim" hehehe... Saí programado ao contrário. Pra mim, o natural é estar sozinho e só estar em par se realmente valer a pena, se houver uma pessoa legal pra estreitar laços e vidas. [E não deixa de haver um certo drama no fato de que recentemente as únicas pessoas que me despertaram essa vontade moram longe e não seria muito viável iniciar relacionamentos assim].

Há uma minoria de pessoas que não necessariamente sente falta de namorar e que fica muito bem na própria companhia. Claro, as pessoas também tem seu círculo de amigos e cada vez mais tem valido a máxima "solteiro sim, sozinho nunca". Ou seja, as necessidades de convívio social, de carinho, sexo e outros sentimentos podem muito bem ser supridas por terceiros que não "os pares fixos". E não há nenhum mal nisso.    

Assim, o fato de ser "interessante" (e bonito, gostoso, bom de papo, bom de cama...) não necessariamente te empurra pra um relacionamento. Inclusive pelo fato (e isso está me vindo agora enquanto escrevo), que se isso é mesmo verdade, você gostaria de ter alguém que combinasse e  tivesse essas mesmas qualidades, não é mesmo? 

Pessoas bacanas e interessantes pra uma relação mais próxima não estão por aí aos montes, como em cachos de bananeiras. E para as que estão, a dança do acasalamento nem sempre vai ser capaz de vencer a regra básica do desencontro dos desejos.

Não é tão fácil quanto parecia, né? 

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Recomeço

O ótimo é inimigo do bom. (ditado popular)


Depois de muita resistência e procrastinação me atrevi a voltar ao meu blog (soa até estranho chamar de "meu", dado ser um projeto anônimo e sobre o qual pouquíssimas pessoas sabem). 

Em 2018 eu vinha cada vez mais com menos interesse em escrever. Um dos motivos era certa preguiça em começar sabendo que teria de fazer um texto grande, complexo, completo. Acho que me condicionei a esse padrão de texto a partir de alguns que escrevi aqui, em momentos de muita inspiração e vontade de compartilhar.  

As mudanças no trabalho e nas minhas vivências gays também tiveram impacto, eu acho. 

Minha amizade com o Mário acabou de vez. Hoje nos tratamos educadamente, mas sem qualquer intimidade. Saímos muito esporadicamente com amigos em comum, mas não temos mais nenhuma troca (e nem acredito que voltaremos a ter). 

Acho que aquela empolgação inicial das experiências na balada, sexo e drogas, passaram. Continuo fazendo tudo isso, mas não me sinto mais uma criança em frente à loja de doces. Já vejo tudo isso de uma perspectiva mais sóbria e menos inocente (embora a intensidade continua sendo deliciosa e os acontecimentos continuem a me surpreender).

Daí decidi que posso continuar escrevendo, com frequência, textos mais curtos, enxutos, inclusive pra não perder as coisas boas que me acontecem, como mensagens de amigos, insights, dicas de seriados, músicas, tanta coisa bacana pra compartilhar (mas que se vc deixar passar, depois dificilmente irá recuperar).

Mesmo depois de tanto tempo sem publicar, é surpreendente ver que o blog continua sendo acessado e lido e isso me dá muita felicidade. Me encanta saber que pessoas, independente da quantidade, têm interesse em ler minhas histórias e reflexões.

Pra terminar (e cumprir minha promessa de escrever textos mais curtos, porém com mais frequência), deixo o link para um vídeo de um cara maneiro e super inteligente chamado Nas Daily (que inclusive, acho um gatinho e adoraria dar uns pegas nele! - apesar de que ele parece ser tão obsessivo que deve ser bem chato... hahahaha).

Nas ficou mundialmente famoso por publicar 1 vídeo de 1 minuto no facebook durante 1000 dias enquanto viajava pelo mundo. Projeto incrível. E sabem ao que ele atribui seu sucesso? DEADLINES! Ou seja, estabelecer prazos para terminar as coisas que você se propõe a fazer. E é disso que ando precisando aqui.


https://www.facebook.com/nasdaily/videos/597206820799708/ 


Obrigado a cada um de vocês que continuam a me acompanhar! Sentimento de gratidão aqui!


domingo, 10 de junho de 2018

Ritos tribais

Corpus Christi - Mais um feriado com mega programação LGBT em São Paulo.

Não deixa de ser engraçado e curioso termos a Marcha Pra Jesus na 5a feira e a Parada do Orgulho LGBT no domingo (com a feira da diversidade também na 5a e a prévia da Caminha das Lésbicas no sábado). Mas é assim que as coisas são e os dois eventos convivem super bem há vários anos (e que assim continue!). 

A festa no estádio da Portuguesa sábado foi incrível! Novamente, alguns fatos que sempre acontecem comigo. Eu não tô muito a fim de ir ao evento, um pouco desanimado, mas faço um esforço pra sair da zona de conforto e me jogar. 

Quase sempre dá certo e o que era uma baixa expectativa se transforma em deslumbre pela sequência dos acontecimentos.
  
Eu estava absolutamente livre, leve e solto nessa festa. Sem peguete, sem crush ou namorado, a pista era um local de infinitas possibilidades. Mesmo que as coisas comecem lentas, devagar, não duvide que uma hora a engrenagem começa a rodar, a velocidade se acelera e a energia começa a ser produzida. 

[já deu pra notar que eu adoro usar metáforas!]

E como disse meu amigo Ìgor: a gente chega e abre a 'barraca do beijo' (inclusive já estamos em mês de festas juninas, mais um motivo!). 

Pra essa transição do nível normal ao nível surreal, obviamente precisa haver algum tipo de catalisador. A maioria dos meus amigos gosta de tomar bala e na sequência um ou dois tiros de key. Eu, particularmente, não me dou muito bem com nenhum deles e prefiro o que chamamos de "Gi" (GHB), que causa efeitos semelhantes ao do álcool: desinibição, coragem e sensualidade. [post futuro sobre aditivos tá aqui no forninho... segura Giovana!] 

Uma tampinha diluída em uma garrafa de gatorade. Essa a receita mágica! E após alguns goles e um tempo pra assimilação, eu sinto uma transformação incrível em mim. É como se surgisse outra pessoa lá dentro e eu, que sou tímido e quieto, fico me sentindo corajoso pra paquerar, abordar as pessoas sem medo de receber um 'não', fico super comunicativo, sensual e carinhoso. O mais legal é que nessa busca você encontra pessoas com energia semelhante e que te retribuem tudo isso na mesma intensidade.


A paquera sempre foi algo complicado pra mim. Se eu não tivesse uma certeza muito grande quanto à reciprocidade do outro, eu não tinha coragem de chegar junto. O medo de receber um 'não' era maior, e até pouco tempo eu tendia a interpretar esse 'não' de alguém como um atestado de menos valia sobre a minha pessoa (já falei sobre isso nesse post aqui). 

Diferente do meu amigo Leandro, um super cara de pau (muita inveja branca dele hehehe) que chega chegando, pode ser de maneira sutil ou de maneira mais incisiva, e que aparentemente não se abate com os vários 'nãos' recebidos. Até porque esses 'nãos' são compensados com muitos 'sims' de caras incríveis. 

O que eu sei é que nesse sábado eu transitei muito bem, com confiança e maestria por muitos corpos, bocas e mentes, abordei quase todo mundo que eu tive vontade (claro, tem uns medalhões carudos que aí é impossível mesmo, a não ser que vc seja, sei lá, o Chris Evans ou o Chay Suede), recebi muitos 'sims' e muita energia boa de caras incríveis e interessantes. Beijei, abracei, dancei...


Eu tava explicando isso pro meu terapeuta com um certo deslumbre [sim, voltei a fazer terapia há uns dois meses e está sendo ótimo - post futuro sobre isso] e ele me saiu com uma explicação bem  interessante. Ele acha que a forma como a sociedade se organiza, em núcleos familiares restritos (pai, mãe e filhos) vai contra a nossa mais primitiva natureza, pois somos assim há muito pouco tempo (em termos de evolução da espécie).

Sempre fomos tribais e o que se passa nessas festas pode ser entendido como um ritual tribal. Pessoas com diversas afinidades dançando juntas, juntando seus corpos suados, descamisados, em uma troca incrível e potente de energia.


E como qualquer ritual, há um certo script, ou roteiro desenhado. Substâncias alucinógenas, modos de abordagem e interação, luzes, adereços, música... ou seja, não deixa de ser um ritual como muitos outros que fazemos ao longo da vida. 


Eu nunca tinha visto as festas por este ângulo, e gostei bastante. 

Conversamos também sobre como estar no meio desse ritual é algo que me faz bem. Meu terapeuta disse que, ao me ver descrever as festas, me imagina como alguém que quer trocar energia com o maior número de pessoas possível e que não vê problema nisso, que não é algo que necessariamente tenha a ver com "sacanagem" (naquele sentido mais moralista do termo). 

E de fato, é assim que me sinto. Me sinto vivo, intenso, potentemente feliz... a energia trocada em um beijo, em um abraço, em  um toque, em um 'encostar' a cabeça no peito de alguém, em sentir a respiração e o suor alheios... tudo isso me faz muito bem. 

E claro, como todo ritual, há um começo, meio e fim (sim, ele acaba e é importante que ele acabe - e que você retome outras coisas na sua vida).

Você pode aprender a se preparar para o ritual para vivê-lo da melhor forma possível e também aprende que há alguns limites a serem respeitados e que é sábio saber a melhor hora de parar (inclusive para poder retornar numa próxima ocasião). 

Fiz tudo isso nessa noite e foi incrível. Cheguei por volta das 20h30 e saí às 04h30 (tá bom, né? kkkk). E como parte do ritual dessas festas, me permito, após, um big sanduba e uma fatia de bolo na melhor padoca de São Paulo, a Galeria dos Pães (inclusive pra compensar o gasto energético de ficar tanto tempo em pé dançando). 

Ao sair da festa, duas reflexões continuaram na minha cabeça.

A 1a, é que acho que preciso ficar um pouco atento, pois em algum momento vejo um leve sinal de compulsividade nesse movimento de beijar todo mundo... é algo que pode ser feito com parcimônia e aproveitando cada momento. Não vale 'beijar por beijar', só pra marcar mais pontos na tabela das irmãs hehehe... you can be a little bit cautious about it, bitch.

A 2a é imaginar se essas práticas que eu tanto gosto seriam compatíveis com um relacionamento. Aberto claro, porque fechado, jamais seria. Acho que pra mim já está claro que dificilmente eu vou conseguir levar por muito tempo um relacionamento monogâmico tradicional (enfrentei um dilema inicial que narrei aqui). E não é uma análise tão elementar, pois mesmo com  um namorado que curta esse esquema, é muito diferente você ir a uma festa dessas sozinho ou acompanhado. A dinâmica tende a ser um pouco diferente.

Temas para continuar pensando... inclusive porque disso decorrem consequências práticas pra mim.

sábado, 31 de março de 2018

Carnaval 2018 - ascensão e queda de um lifestyle

Que tiro foi esse? Que tiro foi esse que tá um arraso. (Jojo Todynho)



O Carnaval de 2018 foi o ápice de um estilo de vida que se estabeleceu em 2016, meio que coincidentemente com o início do blog .  Esse "lifestyle" foi descrito bem objetivamente num dos textos da trilogia carnavalesca de 2017. 


Esse ano a coisa foi ainda mais potente. Nunca beijei tanto na boca, beijei intensamente, incansavelmente, fluidamente, descaradamente, libertinamente - e muitos outros "mentes"... Beijei como se não houvesse amanhã.


Os blocos foram de certa forma como eu imaginava, beijei muita gente interessante, abordei, fui abordado (por meninas inclusive hehehe, e não nego beijo pra ninguém!!!). Reencontrei algumas pessoas que estiveram presentes na minha vida... Paulo e André foram os principais. 

Eu já tinha visto o André no ano novo... nos cumprimentamos cordial e friamente... já não sinto nada próximo ao que senti por ele ano passado... fica só uma pontinha de um mix de raiva e tristeza... mas totalmente administrável. E olhando hoje, tive muitos banquetes após o André que nem justificariam maiores sentimentos. 

Paulo continua super fofo, um sorriso de derrubar quarteirão. Num dos blocos ele veio como quem não quer nada, tinha tomado uma bala e me beijou... eu retribuí, foi gostoso, mas o bom é que eu já estava blindado e não fiquei mal com isso. Beijei outros na frente dele sem nenhuma cerimônia. O fato de não tê-lo visto desde novembro ajudou bastante e esta história está devidamente superada (e quanto mais ela ficar guardadinha, melhor). 

Os blocos foram muito satisfatórios. Com um pouco de cerveja já conseguia relaxar e tinha muita gente aberta a interagir, que é o cenário que mais gosto. Blocos alegres e com muita, mas muita pegação. Não me lembro de um carnaval tão da pegação como o deste ano, inclusive porque nós saímos do Reveillon direto pro Carnaval, pelo curto período entre um feriado e o outro. Aqui mesmo em São Paulo, teve bloco e baile todos os finais de semana, o feriado da cidade (25-01) emendou de quinta a domingo e foi excesso atrás de excesso.

E o estandarte de ouro foi para um carioca, Rafael, com quem fiquei num dos bailes. Moreno, chaveirinho, sorrisão, bocão... passei por ele no meio daquela multidão e joguei um olhar de responsa. Ele correspondeu e eu voltei. Ficamos um tempinho mas eu notei que ele não tava muito a fim de ficar grudadinho ali... saí e fui aprontar em outro canto. 

Mais pro fim do baile reencontrei e aí a coisa rolou com mais intensidade. Eu dei uma intimada de leve nele: "porra, abre esse coração!". Funcionou, pelo menos por aqueles minutos em que ficamos. Dançamos abraçadinhos e até cantei no ouvido dele uma música do Claudinho & Buchecha que eu adoro hahaha (Nosso Sonho). Ele dançou funk pra mim, uma ginga, um rebolado, aquela descida 'até o chão'... a minha porção 'gringo' foi à loucura. Típico menino do Rio!  


Na terça tivemos a pool party... eu não devia ter ido, já estava muito cansado, mas como já tinha me comprometido com meus amigos, acabei indo. Tomei MD e, definitivamente, não me fez  bem, me deixa muito de bad depois... Ao contrário da pool do Reveillon, essa não teve aquela alegria contagiante, choveu e mesmo tendo beijado uns caras interessantes, não saí de lá bem. 

 
                                                                     sim... o meu! :( 

E foi na bad total que embarquei na quarta de volta pra SP e fiquei meio fora de órbita até sexta feira. Esse excesso de beijos e a fricção com a minha barba acabaram me gerando uma alergia perto do queixo (uma espécie de dermatite) e não é algo bacana de se ver, fora que coça pra caramba. Isso me derrubou um pouco o moral.  

Escrevendo hoje, já com um pouco de distanciamento e estando em outro estado de espírito, eu acho que o sentido de continuar a relatar e detalhar essas histórias continua passando pelo exercício da minha liberdade mas também pra evidenciar a capacidade que temos de escolher nossos caminhos e tomar nossas próprias decisões. 

Eu escolhi viver uma vida bem maluca e intensa nesses últimos anos, meio libertina... valeu muito a pena, passei por transformações bem interessantes, me diverti muito, me conheci mais, trabalhei algumas encanações quanto ao meu corpo, conheci gente muita interessante... mas... acho (e digo com todas as ressalvas que um "acho" pode trazer) que talvez, tenha dado pra mim. 

Pra 2018 acho que estou num outro humor, um outro espírito, que parece estar um pouco cansado disso tudo e que quer conhecer coisas novas (coisas que talvez eu nem quisesse entrar em contato antes). Já havia esse desejo sendo gestado, tinha escrito isso em outros textos. Acho que chegou a hora. Relações menos efêmeras, mais duradouras e profundas. Algo que dure mais do que aqueles 5 minutos de paixão avassaladora (quando então já é hora de passar para a próxima, num ritmo de certa forma compulsivo e frenético). 

Quero deixar muito claro que isso aqui não é papo de convertido que, de uma hora pra outra, muda da água pro vinho e renega o passado. Parece mais ser uma mudança de rota... ou uma mudança de hábito; fazer algumas coisas que bem menos frequência. 

O tempo vai passando e tenho percebido que falta pra mim, nos dias de hoje, um projeto de vida pro futuro. Já conquistei muita coisa, mas é fato que, também por isso, alguns ciclos se completaram e eu ainda não sei exatamente o que virá pela frente, há um certo vazio que ainda não foi preenchido e que cabe a mim preencher, de alguma maneira. 

to be continued... [no próximo texto]